Pode-se dizer que o futebol de várzea começou antes mesmo do futebol como conhecemos hoje. Desde quando chegou ao Brasil no final do século 19 até o início do século 20, todo e qualquer futebol de certa forma pode ser considerado de várzea. O futebol de várzea nada mais é do que o futebol em sua mais importante essência. Um futebol inclusivo e praticado pela população mais pobre, é normalmente jogado em campos de chão batido, carinhosamente conhecidos como “terrão”.

Batizado como futebol de várzea, o nome se deu pelas dezenas de campos e times que surgiram às margens dos rios da cidade de São Paulo, como rio Tietê e rio Pinheiros, na virada dos séculos 19 e 20. Com o passar dos anos e o desenvolvimento da cidade, os campos de várzea foram ficando cada vez mais distantes do centro, já que a ocupação pública e privada de terrenos em bairros centrais fizeram com que especulação imobiliária torna-se inviável ter um terreno disponível para a prática do futebol de várzea nessas localidades.

A virada de chave

Nas últimas décadas a várzea tomou proporções tão grandes que se tornou impossível de ignorar.  Em 2008 foi fundada a Federação Paulista de Futebol de várzea que hoje conta com mais de 3 mil equipes cadastradas só na grande São Paulo e mais de 400 campos relacionados. Com isso foram surgindo cada vez mais competições, as premiações foram melhorando e com isso desenvolvendo o futebol de Várzea no estado de São Paulo que já conta com clubes tradicionalíssimos e cada vez mais importantes para seus bairros.

O orgulho do bairro

Caminhando hoje em dia na periferia de São Paulo, tão fácil quanto encontrar uma camisa dos grandes clubes, é encontrar camisas dos times de várzea e suas torcidas organizadas. Isso mesmo, hoje em dia as torcidas dos times de várzea se organizam tanto quanto o futebol profissional e suas camisas viraram uma verdadeira febre nos bairros da periferia.

Essa conexão tem muito haver com o distanciamento do futebol profissional, suas arenas modernas e seus ingressos caros. No futebol de várzea, os torcedores conseguem ter essa identificação com os times dos seus bairros muito pela sensação de pertencimento.

Grandes marcas estão de olho

Competições bem organizadas, times bem estruturados, grandes torcidas e jovens talentos, é claro que as grandes marcas também estariam de olho. No futebol profissional é uma verdadeira batalha de publicidade, contratos milionários e envolvendo cada vez mais habilidade dos patrocinadores em destacar suas marcas no meio de tantas outras. 

O futebol de várzea tem atraído cada vez mais a atenção de empresas como a Netshoes, que atualmente patrocina uma grande competição de várzea na cidade de São Paulo, que reúne 80 equipes, uma premiação de R$50 mil e que receberá cerca de 350 mil torcedores durante todo o campeonato.

Em Recife, por exemplo, acontece o considerado “Maior campeonato de varzea do mundo” que conta com mais de 10 mil atletas, em categorias masculinas e femininas que vão desde o sub-11 até o “veterano”. O Recife Bom de Bola de 2022 conta com 402 equipes inscritas e uma premiação total de R$20 mil.

É muito importante compreender a dimensão desse nicho que tem crescido cada vez mais Brasil adentro e  potenciais sociais e econômicos que o futebol de várzea tem para as populações.