Equilíbrio Competitivo entre os Clubes: as Finanças dentro de Campo: Maurício Galliote, Pedro Daniel, Reynaldo Buzzoni, Pedro Henriques,Rodrigo Capelo (Foto: Sandrelise Chaves)
É de conhecimento geral o fato de
os clubes de futebol brasileiros apresentarem dívidas na casa das centenas de
milhões. Durante várias décadas, dirigentes irresponsáveis acumularam débitos
enormes, tentando montar equipes fortes e alcançar resultados desportivos no
curto prazo. Tudo para agradar seus torcedores (interessados apenas em títulos)
e patrocinadores (interessados na exposição resultante do bom desempenho nas
competições).
O Itaú BBA publicou, em 2018 (com
dados de 2017), um estudo feito com os principais clubes brasileiros, e que
pode oferecer uma boa visão a respeito disso: https://www.itau.com.br/_arquivosestaticos/itauBBA/Analise_Clubes_Brasileiros_Futebol_Itau_BBA.pdf.
Naturalmente, uma das maiores
vítimas dos calotes aplicados pelos clubes é o Governo Federal. O não-pagamento
dos tributos devidos se tornou uma prática tão comum – e tolerada, em face da
especificidade do esporte e do fato de os grandes clubes se organizarem em
associações – que o governo concluiu que, se não ajudasse os clubes a pagar de
alguma forma, jamais receberia o dinheiro que lhe é devido.
Assim, após um período de
negociação, foi sancionada, em 2015, a Lei 13.155, conhecida como a Lei do
ProFut. Ela oferece aos clubes a possibilidade de refinanciar suas dívidas com
o governo federal, mediante o cumprimento de determinadas regras, previstas, em
sua maioria, no artigo 4º da Lei 13.155/2015, como, por exemplo:
·
Quitar suas dívidas trabalhistas
· Passar a pagar corretamente os tributos devidos,
a partir da adesão ao ProFut
·
Ter um conselho fiscal autônomo
·
Limitação da antecipação de receitas referentes
ao mandato subsequente
·
Redução do déficit para os anos subsequentes
·
Publicação de balanços financeiros do clube
· Previsão, no estatuto do clube, de afastamento e
inelegibilidade de dirigentes por, no mínimo, 5 (cinco) anos, em caso de gestão
irregular ou temerária
· Limitação dos gastos do clube com o departamento
de futebol (80%).
A quem se interessar, todos os
detalhes a respeito dessas e das demais regras deste refinanciamento podem ser
encontradas aqui: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13155.htm.
Na lei, também é possível encontrar informações a respeito dos benefícios
recebidos pelos clubes que optarem por aderir ao programa, tais quais:
· Parcelamento da dívida (com desconto) em até 60x
·
Redução dos valores das multas devidas em 70%
·
Redução dos juros devidos em 40%
·
Redução dos encargos legais devidos em 100%
Vale dizer que o programa de
refinanciamento proposto no âmbito do ProFut é o mais benéfico entre TODOS aqueles
oferecidos pelo Governo Federal, em qualquer contexto. Este é o nível de
influência do futebol no Brasil!
Para efeito de fiscalização do
cumprimento destas regras por parte dos clubes, a referida lei também
estabeleceu, em seu artigo 19º, a criação da Autoridade Pública de Governança
do Futebol – APFUT, no âmbito do Ministério do Esporte. Basicamente, ela é o
órgão responsável por monitorar o cumprimento das regras do art. 4ª, e por, em
caso de descumprimento, dar início ao processo administrativo para melhor
apuração das supostas infrações, podendo resultar no cancelamento do benefício
para o clube em questão, e o subsequente pagamento da dívida inicial
devidamente corrigida. Mais detalhes a respeito das suas atribuições e
diretrizes podem ser encontrados no Decreto-Lei 8642/2016 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/Decreto/D8642.htm).
Quase todos os times grandes do
Brasil aderiram ao programa; apenas o Palmeiras optou por ficar de fora. No
entanto, nem todos os clubes têm cumprido sua parte no que se refere a este
acordo, e alguns deles já foram retirados do programa (https://marcelrizzo.blogosfera.uol.com.br/2018/11/12/federacao-time-tradicional-e-campeao-estadual-veja-os-excluidos-do-profut/).
É interessante ver que, no
Brasil, o futebol ainda é tratado como exceção em qualquer contexto. Há uma
certa permissividade que parece ser inerente ao esporte no país; o ProFut é
apenas mais uma demonstração do poder desta paixão nacional, que gera muitas
situações positivas, mas também muitas negativas.
Texto e tradução de
André OliveiraFonte:
https://lexsportiva.blog/2019/04/20/profut-brazils-refinancing-program-for-sport-clubs/
Foto do Painel de Debate #1 da
CONAFUT - Conferência Nacional de Futebol, em 16 de maio de 2019 (
https://conafut.com.br/) com:
- Maurício Galliote - Presidente da Sociedade Esportiva Palmeiras
- Pedro Daniel - Senior Manager - Sports, Entertainment e Media na EY
- Reynaldo Buzzoni - Diretor de Registro e Transferência da CBF
- Pedro Henriques - Diretor Executivo do Bahia
- Rodrigo Capelo - Blogueiro no GloboEsporte.com (Moderador)